A última manhã do ano se desenha na janela da minha sala.
O arrebol se prenuncia na linha do horizonte do mar.
Meus olhos refletem o início da vermelhidão do mundo.
Sou o mais iluminado dos seres.
Não sei o que fazer com tanta beleza.
É tanta que dói.
A cidade dorme indiferente.
Ninguém se importa mais com arrebóis.
Só os insones de plantão.
E amanhã o ano não será mais o mesmo.
Mas as manhãs continuarão nascendo... as mesmas.
E eu estarei aqui... o mesmo.
E as manhãs jamais nascerão sozinhas.
Serei sempre a testemunha dos seus partos de luz.
E ficarei extasiado todos os dias.
Como se fosse sempre a primeira vez.