A loucura me sublima

29
Jul 10

A noite me aperta o pescoço.
A respiração é lenta... curta.
O morcego negro dos solitários voa às cegas pelo quarto.
A medonha noite pinta a parede branca com pinceladas de agonia.
Estou asfixiado.
Movimento os olhos, tento falar... gritar.
Nada!
Nem um grunhido!
Apenas a falta de ar, os pulmões queimando, a angústia...
E um desejo incontrolável de sair pela janela.
Do alto do 12º andar da minha gaiola de concreto.
No ponto mais remoto da cidade adormecida.

Publicado por Antonio Medeiro às 11:32

22
Jul 10

Quando, no meio de toda a euforia do mundo, puxei a tristeza para dançar ninguém me entendeu.
E rodei, girei, voei, me entreguei de corpo e alma aos braços da requisitada dama.
E todos ficaram perplexos, ninguém entendeu a minha eufórica e alegórica dança com a tristeza.
E eu dançava... dançava...
À minha volta riam, e riam, e riam.
E eu percebi de dentro do olho do furacão os pedaços dos risos girando, girando, girando...
E percebi que os risos eram gritos em forma de lágrimas.
Eram lamentos transformados em dores.
Eram as mentiras de todas as almas em plena euforia existencial.
Eram as metáforas da alegria dos tolos preenchendo o vazio dos desiludidos.
E eu rodava, girava, voava, ria...
E saí de mãos dadas com a tristeza do meio da euforia do mundo.
E fui viver a minha vida com o grande amor de todos os homens.
Em paz!

Publicado por Antonio Medeiro às 11:36

15
Jul 10

Ontem eu olhava a silenciosa tristeza das pessoas da cidade.

Nos ônibus, nos carros, nas filas, nos restaurantes... na rua.

A tristeza do dia, do brilho do sol, do cantar dos pássaros.

A tristeza das belas mulheres, do sorriso das crianças... a tristeza de tudo.

A tristeza absoluta!

Puxei o espelho do bolso, lá estava eu; também imbuído de silenciosa tristeza.

Como todos!

Com uma diferença:

Eu enxergava a tristeza de todos; a minha.

Ninguém enxergava a própria tristeza; nem a minha.

Me senti doente, não entendi a minha doença.

Me disseram que eu sou um pequeno-burguês.

Um pequeno-burguês!

Que diabo é isso?

Não sei, mas o mundo é assim mesmo:

Chato, cinzento... triste.

O meu espelho diz isso.

O rosto das pessoas também.

De resto, a tristeza é a minha adorada mãe.

E eu a amo!

Com tristeza!

Publicado por Antonio Medeiro às 10:17

08
Jul 10

Antes de mais nada, quero dizer:
Não sou o cara certo para o meu papel no mundo.
Penso que deve ter existido centenas de candidatos e...
Aqui estou!
Completamente desprovido de qualidades para o cargo que ocupo.
Eu não sei ser feliz.
Não sou coerente.
Sou um grande idiota.
Não existe um minuto na minha vida que eu concorde com nada.
Não consigo ser um cara equilibrado.
Não amo nem odeio ninguém.
Acho o ser humano um saco.
E, na porrada, tenho que ser tudo isso que não sou.
Por que mereci esse castigo?
Quisera eu não ter nascido como coisa palpável.
Quisera eu viver no limbo entre o ser e o não ser.
E dançar um samba com a mulher invisível.
Ao som da orquestra dos anjos rebeldes.
Na ante-sala do bordel do diabo.
Amém!

Publicado por Antonio Medeiro às 09:58

01
Jul 10

Devo fazer uma confissão:
Estou perdendo a fé na raça humana.
O ser humano está se degenerando.
Pessoas, cada dia que passa, são difíceis de serem achadas.
Eu percebo claramente no correr dos dias a transformação inevitável.
Estou me tornando um troço, parte de um todo.
Um todo, burro, frio... uníssono.
E não há nada a fazer.
Logo não terei mais um nome, mas um número.
E me alimentarei de rações, como os cães.
Viverei fechado num cubicúlo inexpugnável cheio de botões multicoloridos.
Viverei até 150 anos, cada dia mais me incorporando ao todo.
E uma manhã...
Sentado sobre a mais profunda solidão, a metamorfose estará completa.
E eu já não existirei como eu.
Serei apenas mais um pequenino ponto na tela viva do computador.
E terei uma vaga lembrança de quando eu era uma pessoa.
E não terei lágrimas para derramar.
E só.

Publicado por Antonio Medeiro às 10:25

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