A loucura me sublima

26
Ago 10

Naquele ano eu fiz de tudo um pouco.
Chafurdei feito um porco no meio das pernas de todas as mulheres do mundo.
Comi até me empanturrar meramente por prazer.
Acumulei bens exageradamente.
Fiquei irado 365 dias do ano.
Fui arrogante.
Não saí da frente do espelho vigiando o meu rosto em permanente exposição.
Não trabalhei e dormi muito mais que o necessário.
E mais:
Menti, traí, caluniei, torturei, denunciei, roubei... matei.
O melhor?
Eu me sublimei!
Nunca jamais em  minha vida havia conseguido ser tão humano como naquele ano.
Fui perfeito!
No próximo ano, talvez...

Publicado por Antonio Medeiro às 10:13

19
Ago 10

Lembro-me como se fosse hoje.
Era uma manhã como outra qualquer.
Escovei os dentes de todas as manhãs.
Levantei-me, tomei o banho de todas as manhãs.
Engoli o café de todas as manhãs.
Olhei pela janela como fazia todas as manhãs.
Depois, caminhei até o meu cofre de aço - sempre mantive um cofre de aço para guardar com segurança tudo o que eu achava importante -, abri a porta do cofre de aço e peguei outro cofrezinho de aço que lá dentro estava.
Tirei a camisa, peguei a faca, abri o peito, arranquei o meu coração e o guardei dentro do cofrezinho de aço.
Coloquei o cofrezinho de aço dentro do cofre de aço, fechei a porta, apaguei da memória a combinação do cofre de aço e saí para o mundo naquela tão distante manhã.
E nunca mais vi o meu coração.
Que bate em algum lugar do mundo.
Longe de todas as patéticas mazelas existenciais.
Em paz!

Publicado por Antonio Medeiro às 09:10

12
Ago 10

O sangue ferveu nas veias e, num impulso, agarrei aquele pescoço branco.
Apertei... apertei... apertei...
Cravei os olhos negros naqueles olhos verdes... perplexos.
Desejei aquela boca vermelha semiaberta.
A mágoa começou a escoar pelos meus poros.
Apertei mais...
Os olhos fixos naqueles olhos culpados.
Uma sensação de alívio deslizando mansamente pela pele.
E apertei...
Os olhos verdes mais verdes.
A boca mais vermelha.
E um suave calor tomou o meu corpo extasiado.
Apertei um pouco mais... parei... afrouxei as mãos...
Os olhos verdes se fecharam... e se abriram.
A boca vermelha murmurou alguma coisa.
E, num impulso, soltei as mãos daquele pescoço branco.
E beijei com furor aquela boca vermelha.
Com os olhos negros cravados no verde daqueles olhos verdes... safados.
E senti um alívio frouxo no fundo da minha alma humilhada.

Publicado por Antonio Medeiro às 09:47

05
Ago 10

Hoje subi na janela do 12º andar da janela do meu apartamento e medi a distância até o chão.
Contei as balas do meu 38.
Afiei as minhas 11 facas com infinita paciência.
Testei a resistência da corda pendurada no gancho da rede.
Liguei o gás por uns segundos e atentei para o seu cheiro silencioso.
Tirei a lâmpada e olhei demoradamente para o soquete ameaçador.
Enchi o tanque com água...
E olhei para a embalagem de veneno para ratos... e nada!
Há anos ensaio com extrema competência a minha incompetência para fugir do mundo.
Mas é impossível!
Sou ansiosamente agoniado com a vida.
Sou angustiadamente apaixonado pela vida.
E gente assim não se mata.
Sai por aí escrevendo poesias, compondo músicas, fazendo todos os tipos de arte, bebendo e fumando como um condenado.
Sai por aí se matando de amor, de tesão por tudo quanto é coisa ruim e boa da vida.
Sai por aí voando, rastejando, andando... morrendo e vivendo aos poucos.
Sai por aí vivendo feito louco como se a vida e a morte fossem as únicas coisas importantes da vida.

Publicado por Antonio Medeiro às 11:27

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