Hoje subi na janela do 12º andar da janela do meu apartamento e medi a distância até o chão.
Contei as balas do meu 38.
Afiei as minhas 11 facas com infinita paciência.
Testei a resistência da corda pendurada no gancho da rede.
Liguei o gás por uns segundos e atentei para o seu cheiro silencioso.
Tirei a lâmpada e olhei demoradamente para o soquete ameaçador.
Enchi o tanque com água...
E olhei para a embalagem de veneno para ratos... e nada!
Há anos ensaio com extrema competência a minha incompetência para fugir do mundo.
Mas é impossível!
Sou ansiosamente agoniado com a vida.
Sou angustiadamente apaixonado pela vida.
E gente assim não se mata.
Sai por aí escrevendo poesias, compondo músicas, fazendo todos os tipos de arte, bebendo e fumando como um condenado.
Sai por aí se matando de amor, de tesão por tudo quanto é coisa ruim e boa da vida.
Sai por aí voando, rastejando, andando... morrendo e vivendo aos poucos.
Sai por aí vivendo feito louco como se a vida e a morte fossem as únicas coisas importantes da vida.