Lembro-me como se fosse hoje.
Era uma manhã como outra qualquer.
Escovei os dentes de todas as manhãs.
Levantei-me, tomei o banho de todas as manhãs.
Engoli o café de todas as manhãs.
Olhei pela janela como fazia todas as manhãs.
Depois, caminhei até o meu cofre de aço - sempre mantive um cofre de aço para guardar com segurança tudo o que eu achava importante -, abri a porta do cofre de aço e peguei outro cofrezinho de aço que lá dentro estava.
Tirei a camisa, peguei a faca, abri o peito, arranquei o meu coração e o guardei dentro do cofrezinho de aço.
Coloquei o cofrezinho de aço dentro do cofre de aço, fechei a porta, apaguei da memória a combinação do cofre de aço e saí para o mundo naquela tão distante manhã.
E nunca mais vi o meu coração.
Que bate em algum lugar do mundo.
Longe de todas as patéticas mazelas existenciais.
Em paz!