A loucura me sublima

29
Set 11

E de repente, no silêncio da noite, encontrei-me no meio do nada da minha vida sem rumo.
Parecia um cão esfomeado perdido no deserto sem fim das ilusões humanas.
Encolhi-me feito um feto no canto mais longínquo da cama.
E senti a dor doer, correr, pelos nervos, pelas veias, pela alma, pelo coração.
E percebi a extrema condição de desespero em que eu me encontrava.
E encolhi mais...
Tentei reagir com uma lágrima, nada...
Tudo em silêncio, tudo deserto, tanto desespero...
Tanto sofrimento... 
Tanto gelo, tanto desejo reprimido, tantos nãos, tanta solidão, tantas coisas que não interessam mais...
Tanto eu!
E a noite...

Publicado por Antonio Medeiro às 19:30

22
Set 11

O que posso dizer de mim sentado na solidão do cais?
O que posso saber dos navios que vêm e vão para lugares que só eles sabem?
O que posso escrever na parede do horizonte, tão nua e indiferente?
Quem sou eu dentro dessa paisagem enigmática, em que chegadas, partidas, silêncio e indiferença se locupletam num quadro?
Um mero espectador?
Um personagem que não consegue se enxergar como personagem?
Ou um criador da paisagem com os meus olhos carentes de metáforas?
Estico o dedo e tento alcançar a longínqua parede do horizonte... queria escrever um poema.
Um poema dedicado ao momento desse momento.
Um poema simétrico que me rimasse com o momento, me integrasse à síntese da paisagem. 
Lucidez?
Loucura?
Ou apenas um homem cravado na pedra do porto com suas raízes de ferro...
À procura de si mesmo.

Publicado por Antonio Medeiro às 19:30

15
Set 11

Era claro e cristalino o meu olhar naquela tarde.
Brilhos, luzes, lusco-fusco, a terra com suas metáforas surreais.
A vida não se opõe aos encantamentos naturais.
Até contribui para que eles aconteçam continuamente eternidade afora.
Eu não sou homem que gosta de pouca beleza.
A minha beleza deve extrapolar os limites dos meus olhos claros e cristalinos.
Devo enxergar, com magia, os feixes de luz do exato momento crepuscular.
Senão não há beleza, é apenas paisagem vista por qualquer olho opaco e cego.
É o que eu acho do obscurantismo da beleza da modernidade.
Tudo é efêmero e repetitivo tranvestido com tolas criatividades.
A tarde não se disfarça, não cria nada.
E não repete nunca a mesma vestimenta há séculos.
É única e inimitável.
E claro e cristalino era o meu olhar naquela tarde.
A minha alma novamente em êxtase.

Publicado por Antonio Medeiro às 19:30

08
Set 11

Disseram-me que se eu andasse um pouco mais encontraria o que procuro.
Continuei andando, os pés em carne viva, a alma com longas asas.
"Além, muito além de horizonte intocável", me disseram.
Eu andava, mas o horizonte é uma linha impiedosa que nos diz para ir sempre em frente, não parar nunca, não chegar nunca, não desistir nunca.
Vez em quando tentava balançar as asas da alma para ver se conseguia alçar voo.
Asas demasiadamente longas, pesadas, nenhuma destreza para manipulá-las.
Eu olhava, o horizonte continuava lá, inatingível.
Mas lá está o que procuro; ir sempre em frente, alguma coisa me impulsiona, alguma coisa me manda ir ou morrer.
Descobri que asas só servem para manter a esperança viva.
Não servem para coisas práticas, como me levar para além daquela linha fora dos mapas.
E caminho, o sangue dos pés deixam uma trilha clara para os que vêm atrás de mim à procura do que procuro.
E o que procuro está lá...
Prontinho para ser meu.
Assim que eu pisar do outro lado da linha imaginária do horizonte...
Da minha fantasia enlouquecida.

Publicado por Antonio Medeiro às 19:27

01
Set 11

Olhei para o tempo, consultei o seu relógio.
1 segundo adiantado em relação ao meu.
Senti naquele momento o que foi perder infinitas vidas.
1 segundo de eternidade são milhões de tempos a mais do que a humanidade inteira já viveu.
Tentei voltar o relógio do tempo em 1 segundo para recuperar o meu tempo perdido.
Nada!
Ninguém consegue, o tempo é incorruptível.
O meu não adianta alterar.
Ele não marca tempo, apenas distâncias entre um luar e outro.
Quedo em silêncio.
E o tempo continua 1 segundo à frente da minha vida.
E eu fico imaginando o que não fui nesse mínimo interstício de tempo entre o que eu sou e o que deveria ter sido.

Publicado por Antonio Medeiro às 19:03

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