Há pouco tempo eu era pessoa sem manchas.
Puro como o sol da manhã, puro como a lua que nasce.
E me orgulhava da minha pureza.
Andava pelas ruas exibindo minha pessoa sem manchas, minha pureza de caráter.
E todos ficavam admirados ao ver homem tão ilibado.
Até que naquela manhã manchei com a nódoa da omissão minha pureza sem manchas.
Diante de diversos cidadãos sujos e esfomeados deitados numa praça, pensei:
O que fazer?
A vida é assim mesmo, não posso fazer nada.
Virei as costas, saí com a alma leve destituída de nenhuma culpa.
À noite, dormindo o sono dos puros, ouvi a voz do fantasma da minha pureza perdida em olhos famintos:
Quando o homem começa a mentir para si mesmo é porque está em plena metamorfose.
Ou está adorando Deus ou o Diabo.
Ou mais provável: os dois juntos.
No sono, fechei os olhos; céu e inferno rodopiavam dentro da minha cabeça.
E eu me senti deploravelmente sujo.
TõeRoberto