O que posso dizer de mim sentado na solidão do cais?
O que posso saber dos navios que vêm e vão para lugares que só eles sabem?
O que posso escrever na parede do horizonte, tão nua e indiferente?
Quem sou eu dentro dessa paisagem enigmática, em que chegadas, partidas, silêncio e indiferença se locupletam num quadro?
Um mero espectador?
Um personagem que não consegue se enxergar como personagem?
Ou um criador da paisagem com os meus olhos carentes de metáforas?
Estico o dedo e tento alcançar a longínqua parede do horizonte... queria escrever um poema.
Um poema dedicado ao momento desse momento.
Um poema simétrico que me rimasse com o momento, me integrasse à síntese da paisagem.
Lucidez?
Loucura?
Ou apenas um homem cravado na pedra do porto com suas raízes de ferro...
À procura de si mesmo.