Meu quarto escuro é o meu mundo.
Nele, sou o que eu quero ser.
Nada interfere ou tira a minha atenção de nada.
Às vezes sou rei; outras, ave de grandes asas sobrevoando o céu escuro.
Certas noites, inseto.
Rastejo e entro pelos menores vãos do assoalho e vasculho o mundo insignificante das criaturas quase invisíveis.
Soldado, batalho em guerras que não terminam nunca.
Névoa, flutuo pelo ar pesado da escuridão e a corto com imaginária faca; o sangue do escuro é negro.
Nem meus olhos brilham na noite sem fim; sou inteiro trevas.
Tateio no espaço da minha cegueira algo que não seja abstrato.
Mas nada em meu quarto escuro tem forma ou qualquer substância.
Apenas neurônios se movimentam pelas paredes sombrias.
E não consigo alcançá-los, são apenas descargas elétricas vindas de lugares inacessíveis.
E fazem da minha cabeça a metáfora de um mundo fantástico.
O único lugar em que consegui refúgio para poder sobreviver aos tormentos desses tempos difíceis.
TõeRoberto